Entre os dias 22 e 24 de setembro, a cidade de Assis, na Itália, acolherá “A Economia de Francisco”, evento dedicado a jovens economistas, empreendedores e agentes de mudança de todo o mundo que foram selecionados para fazer parte deste movimento em um edital lançado pelo papa Francisco em 2019. “Essa convocação foi feita a 2 mil jovens selecionados para 'realmar' a economia; não se trata de uma nova economia, mas de trazer alma e amor a ela, como Francisco de Assis fez durante toda sua vida”, explica Lara Martins, executiva climática carioca e atualmente pesquisadora na Alemanha sobre Governança Climática.
O objetivo do movimento liderado pelo papa Francisco é convidar jovens engajados no desenvolvimento sustentável a iniciar um processo global de mudança para que a atual economia seja mais justa, inclusiva e sustentável. "É necessário que haja esse chamado para a economia do bem comum. Dentro da ‘Economia de Francisco’, tivemos um encontro em 2020 que foi online por conta da pandemia e que conectou os 2 mil jovens selecionados. Os participantes foram separados em 12 'vilas' com diferentes temas que atuam diretamente na economia. Na época, cada país apresentou um pouco da sua realidade naquele momento", explica.
Com a pandemia do novo coronavírus mais controlada, o evento ocorrerá de modo presencial neste ano. São mais de 100 países presentes, com 211 participantes dos 16 países da América Latina e Caribe, sendo a delegação brasileira a maior da região, com mais de 100 agentes de mudança. “Os que estarão no evento serão considerados embaixadores ou mensageiros dessa Economia de Francisco e Clara, nomenclatura que escolhemos utilizar aqui no Brasil para dar a devida importância à parceira de Francisco e que foi extremamente relevante em seu trabalho."
Segundo a executiva climática, o caminho linear da atual economia reforça a ganância de forma desenfreada, a fome e a pobreza. “Já passou do momento de colocar alma na economia, isso é, posicionar os direitos humanos no centro da economia, de modo a reverter este cenário destrutivo. Nesse chamado pela sustentabilidade, a divisão dos participantes em 12 ‘vilas’ foi uma forma de garantir essa visão ampla e holística dos tópicos-chave da economia”, afirma. O evento também conta com oficinas, laboratórios, seminários, conferências, mesas redondas, etc.
Apesar da sua formação em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Empreendedorismo e em Administração de Empresas pela UAM em Madri, na Espanha, Lara foi selecionada pelo papa Francisco como agente de mudança por causa de sua ampla experiência como líder consciente, e entrou para a vila de “Negócios em Transição”, pela sua atuação em projetos sociais para empresas nacionais e internacionais, como Vale, Fundação Vale, Instituto Gênesis da PUC-Rio, Shell, Pacto Global da ONU e Sistema B Brasil.
“Contribuo ativamente para o ecossistema de impacto empresarial. Sabemos que é preciso mudar o modelo de negócios da forma como era elaborado antigamente e que não atende mais às necessidades das pessoas e do planeta. Não é apenas sobre gerar lucro. É fundamental que haja impacto positivo ao longo da cadeia e que a empresa nasça para solucionar grandes desafios, no âmbito social e ambiental”, explica.
A jovem líder conta que cada vila está construindo um projeto desde 2020 e que todas devem apresentar o momento atual de suas criações durante o evento presencial em Assis. “Nem todos chegarão ao fim com o último dia do encontro. A ideia é continuar reverberando suas ações após este potente encontro. Vamos debater sobre esses novos caminhos, como a economia circular, colaborativa, solidária… Como elas contribuem para renovar a economia? Como criar novas e melhores tecnologias para enfrentar os desafios que temos?”.
Para trazer mais consistência e referências para essas discussões, o evento deve contar com a participação do próprio papa Francisco, no último dia, e de nomes renomados como Muhammad Yunus, Amartya Sen, J. Sachs, Vandana Shiva e Kate Raworth.
Para Lara, a ampla adoção dos critérios ESG dentro das empresas veio dar “luz” a este movimento de 'realmar a economia'. “Hoje, os investidores olham para o impacto que os negócios geram. A sustentabilidade tem contribuído cada vez mais dentro desses modelos de negócio, e olhar para a justiça climática também é fundamental para analisarmos o cenário atual e decidirmos para onde queremos ir. Foi isso que eu vim estudar aqui na Alemanha. Ganhei uma bolsa do governo alemão para pesquisar sobre a atuação das empresas daqui em prol da justiça climática”.
Nesse sentido, a inclusão de mulheres, indígenas e mulheres negras, entre outros grupos marginalizados, nos espaços de tomada de decisão é fundamental para que a justiça climática ganhe ampla visibilidade nessa agenda. “Na COP26, vimos a maior delegação do Brasil com ampla representatividade jovem, negra, indígena e de mulheres. Essas vozes devem ocupar cada vez mais esses espaços, já que somos nós os que mais sofrem com as consequências da crise climática. Temos que ter diversidade nas mesas de decisão para endereçar essa agenda. É isso que eu espero também nesse encontro em Assis."