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    Investidor brasileiro precisa aprender com a crise, dizem especialistas

    Em meio ao derretimento dos investimentos na renda variável, fica a dúvida se os novatos integrantes da bolsa brasileira terão estômago para seguir na bolsa

     
      Foto: Amanda Perobelli/Reuters

    Manuela Tecchio

    do CNN Business, em São Paulo

    Estimulado pelos juros historicamente baixos dos últimos anos, o investidor brasileiro deixou de apostar todas as fichas na poupança e correu para a bolsa de valores em busca de maior rentabilidade. Hoje, a B3 está mais próxima de alcançar o novo recorde de 2 milhões de pessoas físicas ativas.

    Com a renda fixa pagando cada vez menor e o Ibovespa — principal índice do mercado de ações brasileiro — crescendo em ritmo galopante nos últimos quatro anos, a renda variável passou a ser mais atraente. Mas, em 2020, sob os reflexos da pandemia de coronavírus, esse novo investidor viu seu dinheiro derreter pela primeira vez. 

    Derreter mesmo. Só até a metade do mês de março, o índice da B3 despencou 44%, transformando em pó o crescimento de 31% que o mercado desempenhou durante todo o ano de 2019. Entre as principais baixas, se destacaram as companhias aéreas e empresas do setor petrolífero, afetadas também pela guerra comercial entre Rússia e Arábia Saudita. Logo, quem abriu a sua carteira de investimentos nos últimos dias, tomou um belo de um susto. 

    Agora, especialistas procuram entender o comportamento e os objetivos deste novo público – formado, na maioria, por homens, de 26 a 35 anos. E enquanto uns acreditam no potencial e otimismo dos iniciantes, outros consideram a corrida à bolsa um tanto precipitada. 

    “É como se algumas pessoas estivessem subindo a escada pulando degraus. Tem gente indo direto da poupança para a bolsa, numa busca meio atabalhoada, como se o mundo fosse acabar. O investidor precisa se perguntar: eu estou pronto para as dores de barriga normais e esperadas disso tudo?”, avalia o CIO da corretora Vitreo, George Wachsmann.

    Quanto à forte instabilidade, causada pelos recentes decretos de isolamento, o executivo tem visto um bom comportamento em investidores iniciantes. “Acho que essa tem sido uma intensa tempestade para esses marinheiros de primeira viagem. E poderíamos estar vendo números de resgate muito maiores. Agora, para quem exagerou na dose, vai deixar sequela.”

    De acordo com ele, o iniciante deve se preocupar em adquirir conhecimento antes de investir. Assumir riscos de forma gradual e continuada, segundo ele, é uma forma mais correta de ir formando a carteira. Mas também é preciso manter a calma, independentemente da situação, e encarar o jogo como uma maratona. “É preciso entender que o investimento em bolsa é de longo prazo”, explica. “Meu conselho é: tenha paciência.”

    O analista de Investimentos da Rico, Thiago Salomão, concorda com essa postura. “Ao comprar ações, o investidor se torna uma espécie de sócio da empresa. E não se deve fazer isso para vender os papéis em um mês. A ideia deve ser ficar vários anos. Quando há uma instabilidade, o investidor tem que ter isso na cabeça, para poder encarar este momento como oportunidade”, afirma. 

    Para Salomão, uma maneira de se proteger das flutuações normais do mercado é diversificar os investimentos da carteira de acordo com o perfil de risco do investidor. Ou seja, entender o quanto você pode e quer correr riscos para alcançar determinado rendimento – e, claro, apostar em mais de uma possibilidade.

    Quem obedece a esse tipo de conselho é o engenheiro de Aracaju (SE) Luiz Solon Souza Barreto, de 32 anos. Depois de comprar sua primeira ação em 2017 e ver seu rendimento chegar a 250%, ele passou a investir de maneira mais agressiva, mas sempre diversificada.

    “O mercado no Brasil é um lugar de oportunidades. Eu não me assusto com noticiários. Claro, cada caso é bem peculiar, mas só me preocupo com o que afeta mesmo a base da economia. Acredito que o perfil da pessoa que investe em renda variável tem que ser assim. Se não, ela não aguenta”, conta.

    Ainda é cedo

    Afinal, essa primeira crise para tantos investidores já afugentou parte deles da renda variável? Para a Coordenadora do Centro de Estudos em Finanças (CEF) da FGV, Claudia Yoshinaga, a falta de estatísticas sobre esses novos investidores dificulta estudos e projeções. Estudiosa da psicologia financeira, que procura entender o comportamento das pessoas no mercado, ela acredita que os brasileiros ainda devem passar por um processo de amadurecimento para encarar as apostas na bolsa como algo mais permanente, de médio e longo prazo.

    “O grande ponto é que ainda não temos muito histórico, pois faltam pesquisas acadêmicas que olhem de fato para isso. Mas é super normal observar reações exageradas frente a notícias ruins. E frente às notícias boas também. Depois vamos perceber quem se empolgou demais”, afirma.

    Para ela, também é preciso relativizar o aumento de investidores pessoa física na bolsa. “Ainda estamos falando de um percentual muito pequeno em relação a população do país. Especialmente quando comparamos com os Estados Unidos, por exemplo”.

    Frente ao primeiro milhão de pessoas físicas, marca atingida no ano passado, os 209 milhões de habitantes brasileiros esmagam, de fato, a estatística. “Mas comparando com o hábito do brasileiro, de sempre investir em renda fixa, é um movimento a ser observado, sim”, afirma a professora. E já que o mercado de capitais é um ótimo termômetro de uma economia, esse crescimento é um movimento que também deve ser comemorado.