5 PASSOS PARA UM CONSUMO MAIS CONSCIENTE


Você já parou para pensar que um simples ato de consumo pode causar um impacto negativo no meio ambiente? Provavelmente não, né? Pois é, este não é um hábito muito comum no Brasil. De acordo com uma pesquisa realizada entre abril e maio de 2019 pelo Instituto Akatu, organização sem fins lucrativos criada em 2001 e referência no tema no Brasil, revela que apenas 17% dos entrevistados concordam plenamente que se sentem culpados pelo impacto negativo que causam no meio ambiente.

Falar do hiperconsumismo soa um tanto como chato ou radical, afinal de contas, mudar uma cultura é extremamente desafiador. Porém, tratando-se do meio ambiente, fonte essencial para nossa vida, torna-se absolutamente necessário.

Conforme aponta o Ministério do Meio Ambiente, atualmente a demanda de recursos naturais da humanidade supera em mais de 30% o que a Terra é capaz de oferecer a cada ano. A Global Footprint, organização sem fins lucrativos (ONG), criou o chamado “Dia da Superação da Terra (Earth Overshoot Day)”, data em que a demanda da humanidade por recursos e serviços ecológicos em um determinado ano excede o que a Terra pode regenerar naquele ano.

A data é calculada desde 2006, dividindo a biocapacidade do planeta (a quantidade de recursos ecológicos que a Terra é capaz de gerar naquele ano), pela “Pegada Ecológica” da humanidade (demanda da humanidade para esse ano) e multiplicando por 365, o número de dias em um ano (Biocapacidade do planeta/Pegada ecológica da humanidade) x 365 = Dia da superação da Terra). Os dados são obtidos através da ONU e de fontes adicionais, como o Global Carbon Project.

A pesquisa realizada em 2019 constatou que o dia em que a terra superou sua biocapacidade foi 01 de agosto. A partir de então, o planeta entrou em “cheque especial” até o final daquele ano. O movimento tem como intuito trazer à tona dados para que governantes, empresas e pessoas passem a refletir sobre os seus atos e encontrem soluções para diminuirmos o impacto ambiental negativo.

Tomado o conhecimento do mal causado pelo hiperconsumismo, você deve estar pensando agora: como posso contribuir para diminuir este impacto sem afetar minha qualidade de vida? Perfeito, essa dúvida paira em muitas pessoas e vamos tratar neste post quais os primeiros passos para torna-se um consumidor mais consciente. Vamos lá?

5 PASSOS PARA UM CONSUMO MAIS CONSCIENTE

Primeiramente, é importante ter em mente que o ato de consumir de forma consciente “é um instrumento de bem-estar e não um fim em si mesmo”, conforme nos lembra o Instituto Akatu.

          Portanto, você deve começar a mudar seus hábitos diariamente, aos poucos. Essas pequenas atitudes, já causam uma grande mudança de rumo no futuro do nosso planeta. É uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária que pode garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

          Selecionamos 5 (cinco) dos principais passos para torna-se um consumidor mais consciente. São eles: 

1.    PLANEJE SUAS COMPRAS: evite comprar por impulso. Avalie a real necessidade das suas compras e consuma apenas o essencial.

2.    MAIS QUALIDADE E MENOS QUANTIDADE: ao consumir, procure produtos que sejam de qualidade e duradouros. Dessa forma, você evita comprar em excesso e consequentemente gera menos resíduos ao planeta.

3.    AVALIE O IMPACTO DO SEU CONSUMO: todo ato de consumir gera um impacto (positivo ou negativo) na economia, nas relações sociais e na natureza. Portanto, antes de adquirir um produto, procure informar-se qual consequência sua ação vai gerar.

4.    CONHEÇA E VALORIZE AS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS: Antes de consumir, pesquise e analise as práticas sociais que a empresa possui. Leve isso em consideração no momento de decisão de compra. Existem muitos empreendimentos que não se preocupam com o impacto que sua produção pode gerar ao planeta. Portanto, não leve em conta apenas o preço e qualidade do produto, também valorize as empresas que possuem práticas voltadas para a sustentabilidade.

5. REUTILIZE OS PRODUTOS E EMBALAGENS: em tratando-se de produtos duráveis, ou seja, que não decomponham-se em um ato único de consumo (ex: comida), procure reutilizá-los, bem como com as embalagens dos produtos. O “upcycling” (ou reutilização criativa), por exemplo, consiste em um processo de transformação de subprodutos, com o objetivo de dar um novo destino para itens que estão em desuso (ex.: criar uma mesa usando o pallet) gerando menos resíduos e contribuindo para o meio ambiente (trataremos deste tema mais detalhadamente em breve aqui no blog).

 CUIDADO COM O “GREENWASHING"

Foto 02: Máscara Verde em analogia à prática do Greenwashing.

O greenwhashing (ou maquiagem verde) é uma armadilha criada por empresas, que comunicam através do seu marketing serem “amigas da natureza”, quando na verdade não são, como argumento para aumentarem o preço dos produtos e o intuito de atingirem novos clientes mais exigentes (conscientes).

A Proteste – maior associação de consumidores da América Latina – em pesquisa encomendada pelo programa Cidades e Soluções, exibido pela Globo News no Brasil, listou os “sete pecados do greenwashing”. São eles:

1.    CUSTO CAMUFLADO: é quando um produto chama a atenção para um benefício ambiental, mas não explica o processo de produção, nem como isso foi possível. Exemplo: uma empresa de papel higiênico informar que o produto é produzido através da reciclagem. Pode ser que o impacto ambiental gerado para a reciclagem utilizando a água e a energia possa ser maior que o comum.

2.    FALTA DE PROVA: o produto mencionar que é correto ambientalmente sem demonstrar o porquê. Exemplo: empresa de notebook informar que o seu produto é amigo da natureza, mas não divulgar o processo de produção e nem a característica que comprove tal afirmativa.

3.    INCERTEZA: o fabricante comunicar na embalagem ou no rótulo a informação de que é reciclável, sem especificar se é o produto ou a embalagem (ou ambos).

4.    IRRELEVÂNCIA: é quando a empresa chama a atenção na embalagem que o produto possui uma característica a favor do meio ambiente, mas na verdade é uma imposição da lei. Exemplo: Fabricante de borrachas criar uma propaganda afirmando o seu produto ser livre de PVC (Policloreto de Vinila), quando já há uma orientação por lei para que não seja utilizado.

5.    MENOS PIOR: quando o produto chama a atenção para uma informação benéfica, com o intuito de mascarar outras maléficas. Exemplo: carteira de cigarro que venha com informação de ser “orgânico” em caixa alta, visualmente em destaque, e as substâncias prejudiciais à saúde em caixa baixa, escondidas estrategicamente.

6.    MENTIRA: Quando a empresa declara informações falsas. Exemplo: colocar um selo de certificação na embalagem do produto, sem autorização da certificadora.

7.    CULTO AOS FALSOS RÓTULOS: O próprio fabricante cria o selo de certificação ou exibe um símbolo que leve o consumidor a acreditar que o produto é responsável ambientalmente. Exemplo: Loja de roupa estampar nas suas camisetas uma certificação criada por ela própria.

 Um caso que ficou muito conhecido da prática foi o da empresa automotiva Volkswagen, acusada em 2015 pelo governo dos EUA de instalar um dispositivo no carro que mascarava o real número de emissão de poluentes em testes com carro a diesel. Na época, o então presidente da empresa admitiu a fraude e foi forçado a renunciar ao cargo. Mais de 11 milhões de automóveis possuíam o software. No Brasil, 17 mil unidades da picape Amarok a diesel também foram envolvidas.

O Instituto Market Analysis, referência nacional em pesquisas sobre sustentabilidade corporativa e consumo consciente, divulgou em junho de 2015 uma pesquisa acerca da prática do greenwashing no Brasil.

De acordo com os dados obtidos, 8 em cada 10 produtos no Brasil são afetados pela prática. Segundo a pesquisa “os apelos ambientais sustentados por certificações legítimas respondem por apenas 15% das declarações e mensagens exibidas”. Além do mais, apenas 14 de 41 certificações foram encontradas nos produtos analisados, evidenciando ainda mais a prática no país. Os setores de “brinquedos” e “eletrônicos e acessórios” são os mais atingidos pela prática.


Foto 03: Estudo feito pelo Instituto Market Analysis demonstrando a evolução dos setes pecados do Greenwashing no Brasil, publicado em junho de 2015.


      Utilizando-se da tipologia dos “Sete Pecados do Greenwashing” foi realizado um levantamento para um comparativo da evolução do percentual de produtos por pecado cometido entre os anos de 2010 e 2014. O resultado (conforme demonstra a foto acima) detectou que “incerteza” e “culto a falsos rótulos” subiram significante.

          Visto que essa prática tem crescido no Brasil e que tem criado um efeito adverso a propagação do consumo consciente, o que fazer para evitar cair na armadilha da maquiagem verde?

          Primeiramente, deve-se analisar as certificações que a empresa e o produto possuem. O selo verde é um forte indicador de que aquelas práticas são verdadeiramente sustentáveis. Mas atenção, conforme exposto anteriormente, verifique se a certificação foi realizada por uma empresa terceirizada.

       Outro passo importante é analisar o CEO da empresa, as atitudes que o empreendimento toma e os que os consumidores falam dela. Existem sites que avaliam a reputação do negócio, como o por exemplo o Reclame Aqui que intermedeia as reclamações dos clientes e as respostas dada pelas empresas. Não é um critério 100% confiável, mas que já ajuda na avaliação.

          Portanto, antes de consumir de uma marca que se diz ser sustentável e amiga do meio ambiente, pesquise e avalie se realmente ela está falando a verdade e que de fato você contribuirá para o meio ambiente.

 BÔNUS: PEGADA ECOLÓGICA 

Quer saber o impacto global que o seu consumo causa? A Global Footprint Network, uma organização internacional sem fins lucrativos (ONG) criada em 2003, criou uma calculadora virtual para medir a quantidade de consumo de recursos naturais e o volume de resíduos gerados, indicando a área do planeta em hectares que precisa existir para suprir a sua demanda individual.



O software pode ser acessado através do site da organização, e é calculado através de um questionário, onde o usuário deve responder informando o nível dos seus hábitos de consumação alimentar, de energia elétrica, meio de transporte e moradia. A experiência é intuitiva e breve, sendo de fácil acesso.



O resultado é informado ao final do questionário, levando-se em conta a demanda do indivíduo (Pegada Ecológica) e a capacidade da natureza em atendê-la (capacidade biológica). Conforme é possível ver na foto acima, a ferramenta demonstra a quantidade de terras que precisarão existir, caso todas as pessoas do planeta consumissem igual a você durante um ano, e o dia em que atingirá a sobrecarga da terra (ou seja, o dia em que o planeta iria exceder a sua biocapacidade).

É possível ainda ver detalhadamente o seu resultado, e obter informações do seu consumo por tipo de uso de solo, categorias de consumo, o nível de carbono produzido e a tua “pegada ecológica” representada por um número em uma área medida em hectares globais (gha), que corresponde a 10.000 m². De acordo com a ONG, a média global por indivíduo é de 1,7 gha (resultado calculado levando-se em conta à totalidade da área produtiva da terra dividida pelo número de habitantes do planeta).

Gostou? Comenta aqui embaixo o seu nível de Pegada Ecológica e o que pretende fazer para melhorá-lo. Pequenas atitudes diárias podem gerar grandes impactos positivos no futuro.

FONTES: 

https://www.akatu.org.br/

http://marketanalysis.com.br/wp-content/uploads/2015/06/Greenwashing-no-Brasil_20151.pdf

https://www.footprintnetwork.org/



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