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    Com ‘boom’ de IPOs, bolsa volta a ter mais de 400 empresas –em 1990, eram 615

    Só em dois meses neste ano, 15 empresas já abriram capital, quase o mesmo que em 2017, 2018 e 2019 somados

    Executivos e acionistas da Locaweb na estreia na B3, em fevereiro de 2020
    Executivos e acionistas da Locaweb na estreia na B3, em fevereiro de 2020 Foto: Divulgação

    Juliana Elias,

    do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Os dias da B3 (B3SA3) estão bastante movimentados. Só nos dois primeiros meses de 2021, a bolsa de valores brasileira já recebeu 15 empresas novas, que realizaram seu IPO –sigla em inglês para Oferta Inicial de Ação, processo feito pelas companhias quando abrem seu capital e listam suas ações na bolsa. 

    Só nesses dois meses, foram quase tantos IPOs quanto em 2017, 2018 e 2019 somados: naqueles três anos, 18 empresas abriram capital no país, ofuscadas por outras 77 que fecharam a conta e foram embora da bolsa.  

    Muitas das desistentes daquele período foram empresas que simplesmente optaram por abandonar as negociações, caso da fabricante de eletrônicos Tec Toy, do braço de fidelidade da Latam, a Multiplus, e da fabricante de alimentos Forno de Minas. Há ainda as que foram adquiridas por outras (caso da Cetip, hoje parte da B3, e da Somos Educação, hoje da Cogna) ou que simplesmente faliram, como aconteceu com o parque de diversões Hopi Hari.

    Entre as novatas de 2021, entraram nomes como a CSN Mineração (braço minerador da siderúrgica CSN, CMIN3), a loja online de móveis Mobly (MBLY3) e a plataforma de venda de usados Enjoei (ENJU3). Veja a lista completa de IPOs ao fim.

    Como essa nova leva chega depois de um ano que já foi um dos mais movimentados das últimas décadas –em 2020, foram 28 IPOs–, a bolsa paulista conseguiu finalmente reverter a tendência de encolhimento que vinha amargando nos anos anteriores. 

    O ano de 2020 foi o primeiro em que o número de empresas com ações listadas no Brasil voltou a crescer, depois de cinco anos seguidos de queda. De 2014 a 2019, de acordo com a base de dados da B3, o total de empresas abertas caiu de 459 para 391. Ao fim de 2020 tinha conseguido voltar para 407 e, hoje, já são 418. 

    O crescimento é rápido e mostra um mercado de capitais tentando se tornar mais robusto. Ainda assim, está longe do que já foi: entre 1970 e 1990, o país chegou a ter mais de 600 empresas listadas na antiga Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo, englobada à atual B3 em 2017. Em 1990, contavam-se 615 companhias no pregão.

     

    Dali em diante, seria uma trajetória de encolhimento que até hoje não se reverteu totalmente. Só em 2006, quando 26 companhias abriram capital, e em 2007, que segue sendo o recordista, com 64 IPOs de uma vez, houve um movimento semelhante ao atual no sentido de aumentar o número de empresas abertas no Brasil. 

    “É importante ter uma bolsa de valores robusta porque é o que vai dar vazão para os investimentos que estão por vir, com os juros baixos”, disse Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).  

    “Os grandes fundos de investimentos, por exemplo, acabam com dificuldades de investir, podem demorar dias para montar uma posição em uma ação. Só os fundos têm R$ 6 trilhões em ativos hoje. O mercado nem tem capacidade para absorver tudo isso em ações.” 

    Juros baixos e mais investidores

    Yoshinaga afirma que não houve um fator específico que levou ao encolhimento no número de empresas listadas em bolsa nos anos de 1990 e 2000. Entre as razões que ajudam a eplicar os anos de desinteresse está uma mistura de juros altos –que passavam dos 20% ao ano– com uma forte consolidação de vários setores, com muitas empresas se fundindo a outras.

    “O custo de se manter aberta é alto, além do próprio custo da transparência”, diz Yoshinaga. “A companhia aberta tem que apresentar uma série de informações que algumas talvez tenham enxergado que não valesse o benefício.”

    Por outro lado, os juros agora no menor valor da história empurraram uma leva enorme de novos investidores para a renda variável, e é o que hoje está ajudando a atrair empresas de tamanhos e setores variados de volta para a bolsa de valores. 

    Em 2020, o número de pessoas físicas cadastradas na B3 quase dobrou, de 1,7 milhão para 3,2 milhões. Ainda é muito pouco perto da população de mais de 210 milhões do Brasil, mas, para a bolsa, é de longe o maior número já registrado.

    “Para as empresas, estar na bolsa é uma maneira de captar recursos, abre portas, dá visibilidade; e o apetite maior dos investidores dá a elas a possibilidade de conseguir bons preços por suas ações”, disse Yoshinaga.