• Paola Churchill (@paolachurchill)
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Jotta A  (Foto: Br4bo)

Jotta A (Foto: Br4bo)

A cantora Jotta A sempre se identificou com borboletas, e isso não é em vão. Assim como o inseto, ela também passou por uma metamorfose. Ela ficou mais conhecida no cenário gospel quando participou do programa do Raul Gil. O seu trabalho acumulava milhões de visualizações, com direito até indicação ao Grammy Latino.

A história de Jotta era uma inspiração, a criança que nasceu em Guarajá Mirim, município de Rondônia, passou dificuldades para viver o sonho em São Paulo e alcançou o sucesso. Mas, em entrevista à Vogue Brasil, a artista explicou que aquilo não era a verdade dela.

Com a pandemia e os shows cancelados, ela pegou o momento de introspecção para se entender e viu estar na hora dela ser ela mesma: uma mulher. E começou o processo de transição.

“Acho que todas nós temos o nosso tempo pra fazer as coisas. E muita das vezes muitas mulheres ou homens trans é tentam fazer isso num ambiente onde elas não estão seguras e acaba não sendo elas mesmas. Então eu acho que é muito necessário você estar rodeada de pessoas que te tragam segurança e façam no seu tempo que a sociedade não te pressione a fazer nada. Que você seja para escolher, escolher o seu nome, escolher a roupa que você vai vestir. E é de forma geral viver essa liberdade”, conta ela durante a entrevista.

O processo começou devagar, primeiro Jotta contou para as pessoas que se identificava como não-binária (que não se identifica no gênero masculino ou feminino). E no dia 11 de abril, ela revelou ser uma mulher transgênero em sua conta do Instagram.

Com tranças na altura do ombro, roupas femininas e salto alto e disse que aquele era o exato momento que estava indo ao cartório fazer a primeira solicitação de retificação do meu nome de registro.“Saber que eu poderia mudar o meu nome, que eu poderia de alguma forma ser eu mesma, foi incrível, assim, foi uma coisa de muita liberdade, poder escolher meu nome”, conclui.

A postagem repercutiu, e Jotta o apoio de diversas pessoas, mas apesar todo o amor e da rede apoio, alguns comentários transfóbicos também surgiram, mas ela sabe que isso não pode calar sua voz.

Jotta A  (Foto: Br4bo)

Jotta A (Foto: Br4bo)

Os comentários que mais machucam são os de pessoas que ela se perdeu de Deus e precisa retomar a religião. “ Essa forma de ver a religião pode ser um mal. Eu vejo isso desde o início da inquisição é assim na história da humanidade ela quando ela é usada pra trazer um benefício aos egos do ser humano e acaba se convertendo em um mal para o mundo. Sim. E eu tenho visto isso todos os dias nas minhas redes sociais, as pessoas comentando de maneira transfóbicas e elas às vezes não sabem que são, que estão sendo transfóbicas”, revela.

“Então eu acho que foi muito difícil para mim se abrir. Sim. Mas acho que é muito importante poder compartilhar isso para que outras pessoas também se identifiquem sim. Uma coisa que você falou e eu sempre penso assim é que eu penso assim os ensina”, explica.

Saindo do casulo

A jornada para se tornar a pessoa que queria ser não foi fácil. Primeiro que crescia enquanto  não teve muito contato com mulheres trans, o primeiro foi com 16 anos, e de família religiosa, tinha certo receio do que os parentes podiam pensar.

“Quando você é uma criança que cresce uma família cristã e conservadora. Você não tem muitas opções. Então as únicas mulheres que eu tinha como referência era minha mãe e as minhas duas irmãs. Sim. E elas eram mulheres de cisgênero, então de alguma forma me identificaram, eu me identificava muito com elas”, começa.

“Eu me frustrava em saber até que eu nunca ia ser igual uma mulher cisgênero. Foi muito difícil lidar com isso. Então  quando eu tive meu primeiro contato com uma mulher travesti, com uma transexual foi quase como uma cena e milagrosa. porque eu entendi que eu não precisava tentar ser como uma mulher cis,  que a minha história seja totalmente diferente Então pra mim foi incrível. Então, foi muito especial pra mim. Como uma borboleta mesmo, né? Total. E o processo já começou, o processo. está indo tudo certo”, comemora.

E apesar da família não ter entendido muito bem a princípio, eles estão apoiando a cantora nessa nova jornada foi ter os sobrinhos a chamando de tia: “Fiquei muito emocionada. Quando eu expliquei que eu era uma mulher trans, na mesma hora, eles começaram a falar comigo no pronome feminino. São essas pequenas coisas, sabe?”, relembra.

Jotta A  (Foto: Br4bo)

Jotta A (Foto: Br4bo)


O caminho para o éden

Na última sexta-feira, a artista lançou a faixa e o videoclipe de 'Éden', o lançamento marca a mais nova e maior mudança da artista em sua carreira, saindo do gospel para o pop e pela primeira vez lançando uma obra após anunciar publicamente sua transição de gênero.

A música é de autoria de Jotta A e tem produção musical de Rafael Castilhol, responsável por hits como 'Movimento da Sanfoninha', de Anitta e também produtor musical do aclamado 'Numanice' de Ludmilla.
Entrando pela porta da frente no pop brasileiro Jotta A com 24 anos acumula experiência ímpar na indústria fonográfica, teve o primeiro álbum lançado aos seis anos de idade e seguiu na carreira gospel nacional e internacional com destaque sendo indicado em 2014 ao Grammy Latino na categoria música cristã em língua portuguesa.

As referências musicais presentes em 'Éden' vão desde The Weekend e Michael Jackson com arranjos que viajam no tempo e encontram batidas contemporâneas perfeitas para as pistas de dança, como as da diva internacional Dua Lipa. O groove de 'Éden' é acompanhado por uma letra que narra o amor e a sensualidade, o refrão faz alusão ao momento em que o fruto proibido tira Eva do paraíso.

A artista é natural de Guajará Mirim, Rondônia, e também lança um videoclipe de 'Éden' dirigido por ela e Marcos Prado utilizando sua arte e o audiovisual para contar ao público sobre a mudança em sua vida e obra. A relevância de artistas como Jotta A para a comunidade LGBTQIAP+ também está evidenciada na letra. "Fiz da própria sombra um exército quando o medo enfrentei", canta a mais nova mulher transgênero do pop brasileiro.