Brasil e Política

Por Raquel Brandão, Valor — São Paulo

Com um cenário menos nublado e sinais de recuperação gradual em alguns setores, o mercado de ações já se aproxima de patamares pré-covid, com analistas revisando para cima as estimativas de pontos ao fim de 2020 e uma corrida de ofertas públicas de companhias já listadas e daquelas que querem fazer parte desse grupo. O mercado, no entanto, costuma andar à frente da economia.

A bolsa voltou a superar o patamar de 100 mil pontos, e alguns analistas de mercado já preveem até 120 mil pontos no fim do ano, enquanto o PIB deve terminar o ano com uma queda de 5,46%, segundo o consenso de instituições financeiras no Relatório Focus divulgado hoje pelo Banco Central.

“A economia ainda vai muito mal, mas o mercado [de capitais] vai muito bem”, diz o professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Henrique Castro em entrevista ao Valor. Um dos sinais da recuperação é que as empresas voltaram a fazer ofertas públicas. Na fila para abrir capital estão grupos de supermercado, de telecomunicações e construtoras, por exemplo, com cerca de 30 procedimentos em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

No entanto, o professor diz que a economia ainda vai “sofrer por um bom tempo”, com destaque para o aumento do endividamento de empresas e famílias, além do risco fiscal do país. “A bolsa de valores não é a economia. Ela é uma parcela pequena do que são as empresas do país. A turma das pequenas empresas está desesperada.”

Um levantamento divulgado no fim de julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reforça o argumento do professor: 522 mil empresas fecharam por causa da crise sanitária. São, majoritariamente (99%), companhias de pequeno porte dos setores de comércio e serviços.

Carlos Sequeira, chefe de pesquisa de ações para América Latina do BTG Pactual, também avalia que as empresas listadas têm mais fôlego numa situação como a da pandemia da covid-19, uma vez que conseguem ter mais acesso a crédito tanto bancário quanto do mercado, seja por ações, debêntures ou notas promissórias. Além disso, as medidas de estímulo do governo mostram certa limitação de capilaridade. “O dinheiro chegou facilmente às pessoas, como o auxílio de R$ 600, mas não tanto às empresas pequenas. Algumas empresas de pequeno e médio porte podem ficar pelo caminho.”

Castro e a coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, Claudia Yoshinaga, observaram os resultados acumulados pelas companhias de capital aberto nos primeiros seis meses do ano e compararam aos números do mesmo período dos anos de 2017,2018 e 2019. Com exceção dos setores de concessões públicas, saúde e de tecnologia da informação, todos apresentaram redução nos seus lucros líquidos, em especial o de petróleo, gás e biocombustíveis.

“Uma boa parte do tombo já foi recuperado próximo do patamar de janeiro, mas não sabemos exatamente quanto tempo vai levar para recuperar integralmente. Há um cenário otimista, mas me preocupa quando olhamos os fundamentos”, diz Claudia, destacando que, embora a bolsa ainda esteja ganhando muitos investidores pessoa física, os investidores institucionais estrangeiros continuam retirando recursos, mesmo com a desvalorização do real ante o dólar. “O receio que eu tenho é que muita gente entrando agora quando já há um histórico de valorização muito grande.”

(Esta reportagem foi publicada originalmente no Valor PRO, serviço de informações e notícias em tempo real do Valor Econômico)

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